Segunda-feira, 12 de Março de 2007
É fabuloso como nos agarramos a eles.
São em tudo diferentes das crianças que têm estabilidade emocional e familiar.
Como é possível o abandono?
Todos os dias, quando estou com eles, me questiono acerca do seu futuro.
Se por um lado tenho prazer em estar com eles por outro sofro, sofro tanto. Fico tão triste...
Li no Doutor Enfermeiro um post que adorei. Retrata, ironicamente, as ideias da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros que teima em querer aumenta-los em número e diminuir o que realmente interessa: qualidade, progressão na carreira, etc. Com tudo isto tem aumentado o desemprego na área e ainda assim ela nada faz... ou faz, quer continuar a aumentar o número de Enfermeiros e consequentemente do desemprego.
Esta luta não é pessoal mas respeito-a e por isso deixo aqui a cópia do post feito pelo Doutor Enfermeiro. É lerem o que ele escreveu porque de facto diz tudo.
"Colegas, passados quase 3 meses do Natal, o doutorenfermeiro (DE) teve acesso à carta ao Pai Natal da nossa bastonária.
"Querido Pai Natal,
Sou eu, a “Migusta”, como tens passado? Andas melhor das lombalgias? Desculpa ainda não ter mandado nenhum Enfermeiro para te administrar uns anti-inflamatórios, mas, acontece que não há ninguém disponível… Além disso o rácio da OCDE é de 12 Enfermeiros por cada Pai Natal…. o que é quase impossível de te conceder, pois nos dias de hoje encontrar Enfermeiros disponíveis para trabalhar, é como encontrar uma nota de 20 euros aqui na sede da Ordem…
Este ano portei-me bem, por isso a minha lista de presentes vai ser mais comprida do que o costume. Não sei te lembras, mas no ano passado, só pedi uma coisita: “mais Enfermeiros”!
Realmente tive mais Enfermeiros, o problema é que as quotas são baratas e preciso ainda de mais… pois, como deves saber, estas “obras” cá na Ordem não são pagas com ar e vento, não é?
Sabes, tive um sonho: sonhei que Portugal um dia terá muitos Enfermeiros. Tantos, que os rácios não serão traduzidos mais pela razão enfermeiro/utente, mas sim por utente/enfermeiro. Quero mais Enfermeiros!
Noutro dia foi ao hipermercado. Estava muito calor lá dentro e senti-me mal. Uma empregada simpática (do hipermercado), perguntou pelos altifalantes se havia algum médico ou Enfermeiro lá presentes para ajudar… Não apareceu nenhum médico, mas enfermeiros estavam muitos. Acho que só o homem do talho é que não era Enfermeiro… ou melhor naquele talho, porque no talho do supermercado cá perto de casa, o rácio é de 4 enfermeiros por posta de carne, o que já é bom! Pelo menos está dentro dos rácios da União Europeia!
Cá na Ordem vai tudo bem. Tenho mais empregados novos! Até o jardineiro tem o curso de Enfermagem! Isto só traz vantagens: noutro dia vi-o pela janela a dar um sermão de ética aos peixinhos do lago aqui do jardim!
Isto faz-me lembrar uma coisa ridícula que me aconteceu noutro dia: veio cá um “totó” a dizer que era Enfermeiro e que estava no desemprego… Perguntei-lhe logo se era para os apanhados! Ele disse que não! Vê-se logo que ele não percebia nada de rácios, enfim… aparece-me aqui cada um! Onde já se viu um enfermeiro desempregado?
Ando um pouco triste. O meu gato anda doente. Levei-o a um Enfermeiro veterinário, daqueles que eu ainda me manifestei contra, mas de nada valeu, ou melhor ninguém me ligou, ele até era bom rapaz…. Era ainda estagiário, andava a estudar o modelo de Nancy Roper para cães e não me pôde ajudar muito! Sabias que já dei um nome ao meu gatinho? Chama-se “rácio”. Gosto de animais. Na semana passada comprei um papagaio. Ensinei-o a falar, já sabe dizer “quero mais Enfermeiros”! Agora a ando a ver se ele aprende a dizer “quero inflacionar as quotas”!
A menos com os meus animais de estimação tenho paz. Nem me quero lembrar do outro dia, em que fui visitar um hospital e tive de fugir pela janela, pois quando olhei para traz vinham umas centenas de Enfermeiros a correr em direcção a mim com cara de poucos amigos! Livra!! Não os entendo. O que é que eles querem? A maior parte deles ganha melhor que uma mulher-a-dias (sem desprimor para estas)!!
Ouvi dizer que o Tony Carreira vai ser Enfermeiro? Era bom. Ele canta bem! Os cuidados intensivos de muitos hospitais precisam de mais alegria!
Lembras-te do Zé Cabra? Esse já é enfermeiro numa daquelas urgências que vai encerrar! Curioso… pensando bem, não vi manifestações da população lá da zona… ele até dava shows para os restantes Enfermeiros nas passagens de turno!
O que é um show, é o novo carro do meu vizinho. Um BMW!!! Olha, ele é enfermeiro! O carro é lindo, precisa é de uma pintura e estofos novos. Foi comprado num daqueles leilões da Polícia Judiciária! Mas está bom: só teve 5 donos prévios! Estes carros dos anos 70 têm chapa grossa! Deita fumo, isso dá-lhe estilo! Isto só prova o poder de compra dos Enfermeiros! O mecânico da esquina (que também é Enfermeiro) diz que é bom material!
Bom, não te quero aborrecer mais, mas este ano queria ainda mais Enfermeiros!
E se fosses amigo, deixavas abrir mais duas ou três escolitas de Enfermagem. Tenho uma amiga ali perto de Pitões das Júnias (fronteira com Espanha) que diz que lá ainda não há escolas de Enfermagem. Foi uma desatenção minha! Há lá estábulos porreiros! Davam bons campos de estágios de obstetrícia: treina-se nos cavalos! É tudo a mesma coisa! O estágio de ortopedia podia ser na mercearia do ti Rodrigo! As escadas são escorregadias, e muita gente parte lá as pernas e braços! Vai ser uma maravilha!
Abraços.
P.s. Pai Natal, é verdade que estás a pensar em ingressar em Enfermagem?""
Terça-feira, 6 de Março de 2007
Todos nós conhecemos a realidade do abandono, sabemos que existe, mas poucos de nós lida com ela diariamente.
Eu nunca tinha convivido com isso diariamente, nunca me tinha apercebido que ao pé deles não sou a mãe do meu filho, mas sim a mãe de todos eles. Nunca me tinham pedido colo ou para lhes fazer totós no cabelo, nunca me tinham pedido ajuda para limpar as mãos não por não o saberem fazer mas porque é uma forma de terem atenção e carinho.
Hoje convivi com tudo isto, hoje chorei (não é difícil) e hoje fiquei mais rica, mais rica por saber que dei, dei amor sem receber, dei carinho a quem o valoriza.
Assim vemos que os nossos filhos, por norma, não dão o efectivo valor ao nosso mimo e ao que por eles fazemos, e certamente temos de agradecer a Deus por isso, pois em parte é bom sinal.
Dar aquele colo, mimo, atenção teve outro saber que continuar a saborear.
Tão pequenos e tão autónomos, porque têm de o ser, acho que foi o que mais me custou.
Segunda-feira, 5 de Março de 2007
Primeiro que tudo obrigada, Tito, pela tua eterna simpatia que eu adoro ler e pela sempre manifestada "preocupação" do choque entre ambos, tal não vai acontecer.
Agora o título:
Eu não sou enfermeira e o texto, tal como refiro no post foi retirado do Sindicatos dos Enfermeiros. Nada daquilo tem a minha opinião pessoal, é uma simples cópia integral de um texto que estava no site. Tive inclusive o especial cuidado de não emitir opinião sobre ele por saber que há... fragilidades.
Levantando um bocadinho o véu... quem me indicou o texto foi um de vós... publiquei para ver se alguém tinha a "coragem" de o comentar.
Jamais vos chamarei de auxiliares, não vos considero como tal, embora também nada tenha contra eles, são tão dignos como vocês e outras classes profissionais.
Relativamente a um dos parágrafos do teu comentário: o SAMUR (Espanha) não tem um enfermeiro como tripulante? Não juro mas julgo que sim.
Quanto à opinião que nunca manifestei aqui:
acho que em todas as classes profissionais uns têm vocação, outros nem tanto e outros não têm nenhuma. O mesmo acontece na tua profissão, enfermeiros, médicos etc. Há enfermeiros capazes de tripular e outros não, tal como há TAE´s que não o deveriam ser por razões que não necessito de te explicar, sabes ao que me refiro.
Mas há um facto que gostava de frisar, custa andar 4, 5 ou 6 anos a fazer uma licenciatura para depois ficarem com as nossas competências. Custa-me digerir. É um grande esforço que se faz, para quem só estuda nem tanto, mas chegado ao fim (o esforço) pergunta-se "para quê?" se outros fazem o que supostamente nos compete sem passar por anos preparação... claro que aqui também se poderia debater o que efectivamente compete a quem...
Fica bem.